Em seu artigo, Navarro (2006) descreveu a evolução dos materiais e como a alimentação era essencial a todos que ele chamou de “selvagens” e que provinha em sua maior parte de animais, exigindo que os humanos fossem à caça. Esta não necessariamente exigia, mas recomendava a utilização de ferramentas para ser facilitada. Tais ferramentas foram essenciais para nós humanos chegarmos aonde estamos, ao nível de tecnologia que temos hoje. Foram anos de evolução, mais recentemente com o apoio de estudos científicos sobre os materiais e suas propriedades.
Dentre esses materiais, encontramos os metais. Diversos tipos foram usados, testados e estudados para que encontrássemos suas utilidades. Não faltam aplicações para os materiais formados por eles, os quais normalmente se apresentam com uma coloração cinza brilhante na temperatura ambiente. Essa evolução tecnológica teve grande impacto na vida humana e iniciou-se durante a chamada Idade da Pedra (2,5 milhões à 3000 a.C.), quando os metais passaram a ser utilizados para a confecção de armas e ferramentas (SILVA, 2007). A Idade dos Metais se estendeu de 3300 à 1000 a.C., com desenvolvimento de técnicas de fundição e uma siderurgia primeva. O bronze foi um dos primeiros materiais metálicos produzidos pelo homem, composto por ligas de Cobre e Arsênio ou de Cobre e Estanho, tendo papel significativo em civilizações antigas da Ásia e da África.
Outro metal que seguiu a idade do Bronze foi o Ferro, com uma importância tão extensa e consolidada que é possível ver suas aplicações em praticamente todas as áreas até nos dias de hoje (SILVA, 2007). Sam Kean (2011) conta em seu livro a respeito de um metal não ferroso, que este foi utilizado por convidados especiais nos banquetes de Napoleão lll, enquanto convidados comuns usavam talheres de prata e ouro. Parece estranho que o metal mais abundante da crosta terrestre tenha sido muito valorizado, mas isso se explica pela falta de métodos para sua purificação naquela época. E foi assim o que este autor descreveu o que ele chamou de “reinado” do Alumínio que durou sessenta anos, no qual se desenvolveram métodos para sua obtenção e produção de ligas. Atualmente, o alumínio é um metal de baixo custo sendo aplicado em diversos setores, desde as latas de refrigerantes até a construção naval (MARTINS, 2008; PEREIRA, 2010; ARAÚJO, 2012).
Se o alumínio hoje já faz parte dos metais de baixo custo, o que dizer sobre a sua reciclagem que economiza 90% da energia necessária para a produção do metal novo? O alumínio é coletado nas ruas por pessoas que juntam latinhas para vender, também é possível encontrar suas sucatas no ferro velho, e todas podem ser recicladas. Para se ter uma ideia, atualmente, 75% de todo alumínio já fabricado nos EUA ainda está sendo utilizado (THE ALUMINUM ASSOCIATION, 2021). Esse número aparentemente agradável para o meio ambiente se justifica pela quantidade de vezes que o alumínio pode ser reciclado. Panelas e outros materiais de alumínio também são encaminhados para o ferro velho e são reciclados, ou então vão parar nas mãos do Alessandro, personagem central desta narrativa. Aqui o alumínio tomará nova forma, passará por uma transformação que resultará em placas e objetos que irão homenagear e honrar pessoas que diferente do alumínio já tiveram seu fim.
O Alessandro fabrica placas de túmulos há mais de vinte anos e começou este trabalho em função da uma demanda local, como ele mesmo disse: “eu comecei a trabalhar com placas na época, porque não tinha quem fazia”. E não parou mais. Suas placas mortuárias são elaboradas em sua oficina situada nos fundos de sua residência na cidade de Santa Cruz de Minas, MG, onde recebe pedidos locais e da região, incluindo municípios mais distantes.
Figura 1: Alguns exemplos de placas fabricadas pelo Alessandro.
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Referências:
ARAÚJO, M.G.M. Estudo comparativo de painéis reforçados em liga de alumínio ou em aço de construção naval. 2012. Tese de Doutorado. Faculdade de Ciências e Tecnologia.
KEAN, S. A colher que desaparece: E outras histórias reais de loucura, amor e morte a partir dos elementos químicos. 1. ed. Rio de Janeiro: Zahar, 2011.
MARTINS, N.C.E. Soldadura de ligas de alumínio de construção naval, 2008. Dissertação (Mestrado em Engenharia dos Materiais) – Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa, Lisboa, 2008.
NAVARRO, R.F. A Evolução dos Materiais. Parte1: da Pré-história ao Início da Era Moderna. Revista eletrônica de materiais e processos, v. 1, n. 1, p. 1-11, 2006.
PEREIRA, J.M.M.V. Estudo das ligas de alumínio aplicadas em construção naval nomeadamente na resistência à corrosão em estruturas navais soldadas. 2010. Tese de Doutorado. Faculdade de Ciências e Tecnologia.
SILVA, G.M.M.C. Metais e Ligas Metálicas: Uma abordagem experimental no secundário, 2007. Dissertação (Mestrado em Química para o Ensino) – Faculdade de Ciências da Universidade do Porto, Porto, 2007.
THE ALUMINUM ASSOCIATION. Disponível em <https://www.aluminum.org> Acesso em agosto, 2021.